Há mais ou menos 10 anos
entrei pela última vez em uma Igreja com o intuito de buscar uma religação com
o Divino. Não deu certo. E a (má) experiência só ratificou minha opinião
conturbada em relação a todas as religiões pelas quais “passei”. Sou de família
com descendência Nordestina, logo todos são de origem religiosa Católica
Apostólica Romana. Quando moleque ia à missa mais por obrigação do que por
vontade própria. É isso mesmo meninada, na minha época a mãe mandava e a gente
obedecia. Pois bem, com o passar dos anos, entre minhas revistas do Conan,
Hulk, Batman, Lobo, Homem-Aranha, Hell Blazer e tantas outras, eu lia a Bíblia.
Como qualquer garoto que mora numa cidade pequena, eu “viajava” naquelas
histórias de pragas, dilúvio, meninos nascidos de virgens, gente que retornava
do mundo dos mortos, enfim. Na minha cabeça era um gibi “massa pacas”, só que
sem figuras bem desenhadas e quadrinhos descritivos.
Sim moçada, li a Bíblia umas
três vezes. Lembre-se que pra criticar ou elogiar algo, primeiro temos que
conhecer. A palavra preconceito já é autoexplicativa demais, justamente por se
tratar de um conceito prévio, e na maioria das vezes errado, em relação a
qualquer assunto que abordamos hoje em dia. E nisso fui crescendo, e
construindo aí uma linha de raciocínio sobre religiões, divindades, fé,
crenças e charlatanismo. Sim, li muito sobre isso ao longo dos anos,
principalmente sobre a estrutura política que existe dentro das instituições
religiosas. E isso me dá asco. Sou a favor que todos tenham direito a expressar
suas crenças de maneira convicta, mas sem violência, extremismos, radicalismos
e charlatanismos principalmente com intuito financeiro. Isso também me dá muito
nojo.
A palavra religião, se não
me engano, segundo meu querido Professor de Sociologia da Comunicação da Ufac,
o Professor Dr. Enoque (Pastor Batista), é oriunda do latim “religare” que
significa mais ou menos que a “religião religaria o homem a Deus”. Dito isto,
voltemos a extrema necessidade humana de ter sempre algum templo, casa de
oração, comunidade, ou algo do tipo, para poder alimentar a “comunhão” baseada
nas crenças, que assim atingiria o ápice que seria o contato com a Divindade na
qual respectivo grupo “deposita” sua fé. A base da sociedade é a religião,
muito mais do que a política, imaginem um mundo sem medo de “castigos divinos,
inferno, pragas ou punições eternas em geral”?! Claro, isso é caso não sigam exatamente
o livro de regras que nos fora imposto. Seja a Torá, Alcorão, Bíblia Sagrada,
Bíblia Mórmon, Bíblia Satanista, qualquer literatura psicografada, por Alan
Kardec ou Chico Xavier. Até mesmo seguidores das teorias malucas de Aliester
Crowley e os loucos seguidores da “Lei de Teleman” ou os fieis que creem nos
“Reptilianos” como se não houvesse amanhã.
Dito isto, que é uma parcela
infame para analises acerca de todas as religiões, seitas, grupos secretos etc.
existentes em nosso planeta, voltemos ao ponto crucial dessa breve história de
experiência decepcionante com os mensageiros do “divino”. Foi um convite
recebido por um familiar, para que fossemos à Igreja Universal do Reino de
Deus. É amigos, foi difícil pra aceitar, mas como a condição do parente não era
das melhores, psicologicamente falando, resolvi dar uma força e fomos ao culto
da sexta-feira, cujo o nome é algo como “Não-sei-o-quê dos milagres”,
“Não-sei-o-quê-do-descarrego”, ou coisas do tipo. Chegando, fui bem
recepcionado. Minha cara de “novato” no espaço deixa os diáconos e obreiros
sedentos por um novo membro que irá se converter àquela noite, e será mais uma
“alma” resgatada para a obra, o cofre e a tutela dos Pastores que conduzem as
ovelhas cegas e enfermas, direto para o abatedouro da fé. Tentei não criticar logo
de inicio, mas é quase impossível. Prometo tentar ser mais isento.
Começam as orações e rituais
em si, com cânticos e mensagens lidas e “interpretadas” pelo Pastor, extraídas
direto das escrituras sagradas e derramadas como “água de esclarecimento” sobre
a cabeça dos sofridos que ali estão – Até agora é o texto com mais aspas desse
Cérebro – Tento me concentrar e
relembrar como se reza, ora, faz um pedido ou desvia o olhar curioso do “irmão”
que tanto berra ao meu lado. Começam as promessas de resolução de problemas, os
pactos com a prisão temporária de sapatos (Até hoje não entendi aquela lombra
dos sapatos direito) pressão psicológica para doações “espontâneas” e
depoimentos de pessoas que parecem ter nascido matando, roubando, estuprando,
usando drogas etc. E que agora nada disso importava mais ou marcaria suas
vidas.
A parte “bacana” veio: A
oração do descarrego. Basicamente somos obrigados a baixar a cabeça, fechar os
olhos e orar pra que todos os problemas sejam solucionados como num passe de
mágica. É até tocante, no inicio, depois começa a ficar patético. As pessoas
que auxiliam no culto se dirigem aos membros que aparentemente estão entrando
numa espécie de transe, e ficam em posição “segura a queda”. A essa altura eu
já estava com um olho bem aberto e outro fechado, pois dois já haviam caído ao
meu lado. E queria ver quem os tinham empurrando. Logo vejo que orações
individuais são feitas nas pessoas, e assim que a mão do Pastor toca a testa de
alguns estes imediatamente vão ao chão.
Nesse
ínterim, observo que caminhando em minha direção vem um senhor que também é
responsável pelas orações “knockout”.Ele, de baixa estatura, solicita
que eu baixe a cabeça, sobe em uma cadeira, e só assim alcance minha
cabeça para efetuar seu trabalho. Percebo que há uma técnica composta por jogos
de palavras, gritos repetitivos e um leve empurrão na testa para verificar em
que nível de predisposição a cair estamos. Ouve uma pequena pressão
impulsionando minha cabeça para trás, não mexi um centímetro sequer. Não
satisfeito ele empurra mais forte. Nada. Logo o “Hobbit da fé” pressiona com
mais força ainda, abro os meus olhos e a seguir vem um dos diálogos mais
surreais pra se ter em uma igreja:
- Se o senhor
continuar empurrando vou cair, e se cair quando levantar o senhor vai pegar um
soco.
- Que isso
irmão?!
- Que isso uma porra, é por isso que só vejo gente
caindo, você as empurra seu bibelô do Edi Macedo!
- Elas caem pelo poder do espírito santo.
- Mermão, deixe de conversa, vim aqui como convidado e não vou deixar ninguém me derrubar não,
desça dessa cadeira tire a mão da minha cabeça e vá tentar iludir outro com
suas “quedas divinas”.
- Pastor temos um “demônio” rebelde aqui.
Falei com a pessoa que me convidara que estava
me retirando dali enquanto ainda havia paciência. Ela não entendeu muito, mas tempos
depois conversamos e relatei o ocorrido. Resumo da ópera: Os problemas do
familiar não foram resolvidos, mesmo após ele ter sido praticamente obrigado a participar
de mais uns cinco ou seis cultos, devido o lance dos “sequestros de sapatos”.
Soube que se bandeou pra outra igreja chamada “Casa da Benção” onde um dos
maiores estelionatários da fé que no estado habita, conhecido como Pastor
José é o proprietário. Nisso, também me convidou a frequentar, mas já não estava mais disposto a
participar do “freak show religioso” que o mesmo proporciona. E outra, estava
sem dinheiro. De lá pra cá continuo buscando a “ligação” à minha maneira, sem
correr riscos de quedas ou trocar a língua mater pela dos “anjos”, que talvez
nem os anjos entendam.
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