Imaginem um sábado, boas companhias, lugar agradável e
cheio de gente interessante. Imaginaram?! Pois é, tirando o fato real das boas
companhias (pessoas que estavam comigo, é claro) o resto foi um apenas um freak
show de entretenimento e massificação da futilidade humana. Calma, eu explico.
Cada vez mais as figuras humanas vão perdendo a essência no que diz respeito à
humanidade em si, a exteriorização de padrões revela isso o tempo todo, seja
nos filmes, TV, internet ou na balada “da hora” que você vai meio como que
entrando de gaiato num navio. Mais uma vez fica comprovado que essa
superficialidade deixou de ser direito apenas dos “desprovidos” de capacidade
de raciocínio lógico, Q.I alto e\ou disfunção cognitiva.
Estou falando de uma das milhares de “calouradas de
medicina” que ocorrem quase que
semanalmente aqui na Bolívia. São festas caras (para o custo de vida no país)
sempre cheia de gente que está dentro dos padrões de beleza inútil, se você não
for uma atriz pornô, ou um michê profissional. Fui ao local por querer conhecer
e beber um pouco também, mas já tendo uma ideia do que iria encontrar. A festa
era é uma das mais concorridas, pois teria a presença de uma sub-celebridade
que havia participado de uma das edições do “império do grotesco” chamado Big
Brother Brasil. E como quase todo ex-famoso, intitular-se DJ é algo tido como
lei, no que diz respeito à engenharia social que eles precisam fazer antes que
o ostracismo ou uma overdose os consuma. Sendo que na verdade isso, sob minha
ótica, é um insulto para com os verdadeiros profissionais da área.
Mas, o foco não é a pobre moça ex-sei-lá-o-quê que
veio e apertou o “play” no toca-discos da boate, e sim o público. Ah o público.
Quanta gente bonita (por fora), os futuros médicos brasileiros, sim, aqueles
mesmos que dizem que a sua pancreatite não passa de uma indisposição estomacal
ou falta de ingestão de água. Sim, aqueles mesmos que lhe consultam olhando
pras receitas, e antes que você termine de falar: Pof! Virose! Mas quem sou eu
pra julgar o profissionalismo de alguém, pelo simples fato de ele estar
altamente fora de sim em uma balada,
ingerindo bebidas alcoólicas e drogas dos mais variados tipos?! Pois é, não é
esse o objetivo. (momento falso moralismo detected).
O que vi, o que ouvi, o que fingi não ouvir, o que ri.
Sim, tudo isso numa noite que acabou até cedo, para a pompa que a festa
aparentava ter. O que mais me surpreende são as segregações padronizadas
iniciais, como em todo local, no Brasil também, as tais subdivisões em alas:
VIP, Camarote e pista. E isso é notório, cada ala tem seu público específico, e
que faz juz ao que está sendo ofertado em cada setor dos estábulos das
vaidades. Ficamos na pista, lógico, as alas mais caras são muito cheias sempre,
a bebida é quente, e sempre terá gente filando sua cerveja, uma vez que o
dinheiro que a pessoa tinha deu apenas pra pagar o local que lhe proporciona a
visão “de cima”. Porque encher o ego com uma visão privilegiada é mais
importante do que se divertir com amigos e\ou colegas.
E nisso foi rolando a festa, com as musiquinhas
propícias das baladas mais teens (momento old boy detected), me recuso a dizer
os ritmos e as músicas tocadas ,primeiro por não saber nome de quase nenhuma
música, segundo por ferir meus princípios musicais, quando estou sóbrio, é
claro. Mas voltemos ao fantástico mundo dos “estudantes”. Existe uma raça que
tenho muita aversão, e cada dia que passa ele me decepciona mais, e nesse meio
tempo minha fé é transferida dela para os animais: A raça humana. E dentro
dessa raça, existem várias vertentes comportamentais, classificadas em grupos,
em tribos, em modo de vida, etc. Uma delas é a “raça” que mais me causa nojo:
Playboys. (Sim, sou intolerante a medicamentos, animais peçonhentos e a
Playboys).
Uns logo acima, esbarrando em todos, com suas
camisetas coladas, mostrando que academia está em dia, outros com suas panças
enormes na camisa (também coladinha) “Armani” demonstrando que a conta bancária
está no a azul. São os donos da festa, são o centro das atenções, são os mais
cobiçados pela nossas futuras doutoras (Que Odin nos proteja). No intervalo
entre uma música e outra se ouve alguns bate papos entre os presentes, dos mais
variados tipos de conversas até inicio de pequenas discussões acerca do litro
de uísque que alguém derrubou. Com meu copo de cerveja observo, e vejo algo
quase que imperceptível se você foi ali realmente pra se divertir. Percebo o
vazio naqueles olhares perdidos, que buscam algo que não são as mulheres\homens
ali presentes, não são os uísques caros, os energéticos ou a cocaína com suas
“carreiras” voluptuosas em cima das mesas na ala dos “very important personals”.
Será que estava vendo bem, ou era só mais um bêbado em
meio a tantos, transferindo as próprias frustrações e o vazio que o ambiente
trazia para materializar no outro, e não saber exatamente o que esse ou aquele
olhar perdido buscava?! Não sei. Mas por um momento tive pena de alguns rostos,
tive pena de algumas atitudes, tive pena. Nada mais. E isso me fez em meio
àquele furacão etílico-sonoro mais uma vez levantar o questionamento sobre o
que de fato vale a pena, sobre essa eterna buscar por ser feliz, que
importância isso realmente tem, que ações podem ser classificadas como
decadência humana ou como atitudes altruístas a ponto de nos sentirmos úteis,
orgulhosos de si, e não nos culparmos por nada ou tudo que foi feito. Mais uma vez
as perguntas remontam\desmontam uma simples noite de bebedeira. E nisso a festa
vai rolando.
Vejo princípios de confusões, empurrões, agressões
verbais dos mais variados tipos. A turma do “deixa disso” está presente e a
ex-alguma-coisa já está pra entrar no palco, percebo pelo frenesi de máquinas
fotográficas e celulares em punho num corrida contra o destino até chegar
próximo ao local onde a moça irá fazer seu “show”. São por volta das 00:45am, permaneço
praticamente inerte, no mesmo local que cheguei e estrategicamente próximo ao
bar e banheiros, isso é o conceito de estratégia, pra quem bebe, é claro. Showtime!
Gritos, empurra-empurra eufóricos muitos descem do camarote, atravessam a pista
para poder tirar uma foto com a “estrela da noite”. Eu apenas sorrio, amigos
que estão ao meu lado não entendem muito, apenas sorriem de volta com aquele
olhar de “esse cara tá bêbado já”.
Trinta minutos, creio eu, que tenha sido esse o tempo
de duração da apresentação ,que ainda não sei direito o que foi, da ex-bbb. Não
citarei o nome pois não lembro, e também seu nome não é representação de nada,
nem para ela e nem para seus fãs. Imagine você ser reconhecido como o “Filho da
fulana”, “Mulher do fulano”, “Irmão do”. Pois é, essa é a premissa básica de quem adota o
ex-alguma-coisa como nome, perde-se primeiro a dignidade na super-exposição a qual
você se propôs por dinheiro, para em seguida perder parte da identidade (pelo
menos por 6 meses).
Até agora não entendi mesmo o que ela veio fazer numa
cidade boliviana, numa festa patrocinada por calouros de medicina. Será que a
“carreira” não está sólida, será que a revista para qual pousou não rendeu o
esperado, será que é apenas a “endorfina da fama” que ainda permanece no seu
organismo que faz com que a pessoa aceite qualquer tipo de proposta para expor
a imagem, nem quem seja por meia hora. Ou será que havia algo além, nas
entrelinhas, no contrato de “serviços” que não percebi e\ou não vi. Será?!
Todavia não importa. Mais uma vez vemos a derrocada
humana, pessoas ébrias, esbanjando o que aparentam ter, gente submissa à
situações, outros dignos de tapas na cara dados pelo Capitão Nascimento, alguns
apenas matando a saudade de casa ouvindo as “modas” brasileiras, gente fugindo
da sobriedade e tentando achar respostas no fundo do copo de cerveja, muitos
fazendo suas “selfies” pra serem vistos, curtidos e compartilhados. Por que
fazer isso não sei. Fui um dos “mais dos mesmos” a serem encaixados nessas
diversas vertentes de pessoas presentes. Me diverti, não serei hipócrita a
ponto de dizer que não. Afinal somos todos suscetíveis, o ambiente nos
transforma, por muitas vezes nos consome. O que realmente podemos taxar como
decência, postura, certo, errado, se o momento é tão superficial que mal
conseguimos lembrar dos nomes das pessoas. O que estar no topo, quando é estar
no topo, e o que de fato é a decadência!?
E aqueles olhares perdidos no vazio do caos noturno,
de copos cheios e de companhias solitárias ainda me intrigam muito. Muito.