Tenho poucos amigos, mas bons, muito bons. Quando já
passamos dos 21 aninhos essa seleção parece que vai ficando mais rigorosa e
natural. Discernimento, bom senso, pode dar o nome que quiser, eu
prefiro chamar de vivência. Certo. Amizades, com “A” maiúsculo se contam nos
dedos hoje em dia, de fato há cada vez menos pessoas confiáveis o suficiente
para serem denominados verdadeiros amigos. Comecemos por família, todos os seus
familiares são seus amigos? Duvido muito. Pois se a resposta for “sim” você
precisa ser entrevistado pela Marília Gabriela ou Jô Soares. Isso será um fato
inédito na sociedade pós moderna contemporânea. Pois bem, falando desse modo
parece que soa meio preconceituoso para com os parentes e aderentes, mas não,
não é.
Há muito venho tentando delimitar parâmetros que
definam qual tipo de relacionamento tenho com as pessoas mais próximas a mim.
Não pense que é fácil, pois ao mesmo tempo em que tenho certeza de quem é
“Brother” sem titubear, as dúvidas acerca de quem classificar como “Amigo”
beiram à crise existencial. Mas é engraçado, quando crianças, todos
praticamente éramos amigos, no sentido puro, o que definia bem isso era um
pedaço do quibe dado na hora do recreio ou o convite pro videogame na casa do
mais afortunado da turma. Não precisávamos de muita coisa pra dizer: Esse aqui
é meu amigo.
Pulamos pra fase boa das descobertas adolescentes,
inconsequentes e na maioria das vezes bastante conturbadas. É aí que o conceito
de amizade ganha outras conotações. Amigo de verdade passa a ser aquele que lhe
convida pra ir à boate, mesmo sabendo que você tá sem grana, e diz “Relaxa,
pago hoje, quando você tiver grana você paga pra mim”. Desses “Brothers” tive
muitos, e fui um dos tipos também. Valores diferentes, épocas diferentes e
definições de amizades diferentes. Então começamos a enxergar o mundo sob outro
prisma, que não o adolescente, e logo a paleta de cores vai do amarelo ouro aos
tons mais cinzentos e escuros no que diz respeito à amizade. Isso é meio
chocante à principio, mas depois vemos o quanto nossos pais tinham bastante
razão sobre quase tudo.
É neste exato momento em que “redescobrimos” a família
(Pelo menos comigo foi assim) e o irmão (ou irmã) mais velho de repente não é
mais aquele cara que parecia querer apenas mandar, e sim uma pessoa que pode
falar com você, e o melhor de tudo disposto a te ouvir. Isso é espetacular. Já
estamos naquele momento de buscar um norte, e a conversa com a mãe e o pai já
não é tão conturbada quanto antes, lógico que existem assuntos que jamais seu
amigo da família vai entender, logo, melhor deixar pra falar com os outros
amigos. E nessa troca de conhecimentos familiares, agora fazendo mais sentido,
começamos a diagramar o nível de amizades e coleguismos. Colegas de faculdade,
de trabalho, de academia (não é o meu caso), colegas de bar (SIM, é o meu
caso), colegas de infância e os amigos.
Não consigo contar quantos colegas tenho, já pessoas
amigas contando com as duas mãos ainda sobram alguns dedos. Depois de quase
conseguir definir\classificar os níveis de amizade\coleguismo ainda tem uma das
coisas mais difíceis para um homem: Quais mulheres (que não são da família) de
fato são suas amigas, quais são suas colegas, e quais são apenas conhecidas.
Sem entrar no tema antigo e machista de “homem não tem amigas”. Claro que tem,
mesmo que seja com “benefícios”, mas tem. Como saber que uma pessoa pode ser
amiga de verdade, é difícil, mas basta observar algumas atitudes e momentos
cruciais e então tiramos as conclusões com base no feito ou no que se deixou de
fazer. É claro que não se pode haver cobrança numa amizade verdadeira, é
amizade e não casamento, é bom lembrarmos sempre disso.
Nos últimos tempos, mais precisamente nos últimos oito
anos, conheci pessoas que se tornaram meus colegas, outras apenas continuaram
como conhecidas e algumas foram como se nossas almas já tivessem sido amigas em
outro plano astral, universo paralelo, ilha de lost, matrix ou numa camada bem
densa de uma “inserção”. O simples fato de começarmos a conversar e nos darmos
bem, termos muitas divergências em relação a algumas coisas e ao mesmo tempo
termos tanta afinidade sobre os mais variados assuntos fez com que novamente eu
redefinisse meu conceito sobre o que é a amizade.
Contudo,
todavia, no entanto meus caros (e poucos) leitores, tenho tido cada vez mais
certeza de que a amizade é nada mais nada menos do que a condição de
compartilhar experiências (não aquelas em uma rede social), ser solicito, mesmo
longe tentar estar “presente”, mesmo sem ter contato por um bom tempo ainda rir
e se abraçar quando novamente se encontrarem, discutir rispidamente sobre uma
cagada feita e\ou oferecer um ombro num momento de dor ou frustração. Não é
preciso estar juntos “24 horas por dia” para sermos\termos amigos, muitas vezes
basta uma pequena palavra, ou mensagem durante o dia, ou um telefonema bêbado
na madrugada, ou aquele visita chata na hora do almoço de domingo. Porque amigo
que é amigo não precisa ser convidado, não precisa ter vergonha um do outro e
não precisa ter compromisso, apenas respeito mútuo. E para isso é preciso saber
cultivar esse sentimento cada vez mais raro: A amizade.
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